As Águas da Sereia - C. B. Kaihatsu
Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Ed, Natanael e Carlos, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
C. B. Kaihatsu ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.
As Águas da Sereia
C. B. Kaihatsu
O
forasteiro não quis acreditar na história que todos contavam, tomou tudo por
lenda. Uma sereia? Só nos filmes e nos livros. Joaquim não atendeu aos
protestos dos munícipes que disseram que os homens que se arriscavam às margens
do Amazonas à noite jamais retornavam.
A
criatura metade mulher e metade peixe era descrita como um ser de beleza
descomunal e um canto inebriante. “Como eles poderiam saber de tudo isso se
nenhum homem voltou?”, pensou Joaquim. Certamente eram só boatos para que os
mais jovens não perambulassem de madrugada por aquelas bandas. Estava disposto
a colocar um fim nesses boatos, além de ser questão de honra para ele vencer
uma aposta que havia feito com o Pedro no bar do Tião.
***
Tião
contou à Pedro e Joaquim sobre Iara, a Senhora das Águas, e o repentino sumiço
de um rapaz que costumava frequentar seu bar.
—
O Antônio, sobrinho do Zé, foi visto pela última vez perto do rio. Eu tenho
para mim que foi coisa da Iara, ele sempre foi ajuizado, mas naquele dia tomou
umas a mais, aposto que se esqueceu que o território era da sereia àquela hora.
Os
dois amigos riram-se incrédulos.
—
Mas Tião, não seria possível que ele tenha ganhado o mundo? — perguntou
Joaquim.
—
Não. Ele não deixaria sua mãezinha doente de preocupação. Dá uma pena ver o
estado de dona Regina.
—
Pois eu aposto que ele está por aí gaiteando. Essa Iara não existe, Tião! E vou
provar.
—
Adoro apostas! Se você passar um noite inteira às margens do rio, a cerveja é
por minha conta, mas se não tiver coragem quem paga é você. E o Tião de
qualquer forma sai ganhando — propôs Pedro.
—
Apostado, meu amigo!
—
Vocês são malucos. Joaquim, não faça isso! — protestou Tião.
***
Na
mesma noite, Joaquim decidiu que cumpriria a aposta. Não passara nem meia hora
e o homem já estava entediado.
De
súbito, avistou uma jovem nadando no rio, seus lindos cabelos longos e negros
cobriam os seios que estavam nus.
A
mulher notou que ele a observava absorto e sorriu para ele que retribuiu.
Joaquim perguntou-lhe o nome, mas a moça nada respondeu e mergulhou. Ao voltar
a superfície, os cabelos não escondiam mais sua nudez, deixando Joaquim ainda
mais extasiado com a visão.
A
estranha pôs-se a cantar uma melodia numa língua que o homem desconhecia.
Quando Joaquim percebeu, já estava dentro do rio e os braços da mulher o
envolviam e comprimiam seu corpo ao dela.
Por
um instante, o pânico tomou conta dele, onde deveriam estar as pernas dela,
sentiu algo como uma escama de peixe, mas prontamente ela o beijou e ele se
deixou submergir, até não sentir mais nada. O fundo do rio seria sua morada
eterna.
Na
manhã seguinte, Joaquim não apareceu no bar do Tião, deixando Pedro preocupado.
Logo ele seria mais um personagem de uma história a ser contada para os homens
que ousassem desafiar os domínios de Iara.
Adorei,uma história que nos põe a pensar, acreditar ou não nas lendas, mas vale mais crer do que ver.Um conto a dar os parabéns
ResponderExcluirFeliz que tenha gostado, Rosa! Espero que goste de nossas próximas histórias!
ExcluirConto curto e completo ao mesmo tempo. Ainda hoje a lenda de Iara é muito forte lá no norte do país.
ResponderExcluirVerdade, Marcão! Essa lenda é muito forte no norte do país!
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