Assombração - C. B. Kaihatsu
Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Morphine, Naiane e Natasja, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
C. B. Kaihatsu ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.
Assombração
C. B. Kaihatsu
5
de outubro de 1967
Hoje,
finalmente, mudamos para casa nova. Ela é bem antiga, confesso que até me
assusta um pouco, mas pelo menos agora tenho um quarto só meu. Eu não aguentava
mais dividir o meu quarto com a Annie.
Ainda
não tive tempo de explorar a cidade, coisa que pretendo fazer em breve. Por
ora, preciso me contentar em explorar cada canto da casa. Há uma porção de
caixas espalhadas pela sala e quartos. Papai disse que é proibido ir até o
porão porque ele ainda não está pronto.
8 de
outubro de 1967
Tem
chovido bastante nos últimos dias, então nós ainda não pudemos sair para brincar.
Estou bem entediada, com exceção do porão, não há mais o que conhecer nessa
casa.
Mamãe
ralhou com Ed hoje. Ele tentou assustar Annie e eu com histórias de terror. Ela
disse a ele que não se deve fazer isso com as irmãs mais novas.
Ed
inventou uma história sobre esta casa ser amaldiçoada e assombrada pelo
fantasma de uma mulher assassinada no dia de seu casamento. Segundo ele, seria
possível ver o fantasma de uma mulher vestida de noiva e ouvir o seu triste
lamento.
Um
pouco depois do jantar, ouvi papai dizendo a mamãe que Ed deveria ter escutado
essa história de algum vizinho. Parece que, de fato, uma jovem mulher fora
assassinada no dia que se realizaria seu matrimônio. Pelo menos foi o que papai
ouviu por aí, mas ele disse que toda essa história de fantasma é uma grande
bobagem.
17
de outubro de 1987
Ontem
um gatinho rajado apareceu em nosso quintal. De tanto que insistimos, mamãe nos
deixou ficar com ele. Tenho para mim que o motivo foi para deixar mais agradável
nossa adaptação na nova cidade.
O
bichano gostou de mim, tanto que dormiu no meu quarto. Demos a ele o nome de
Tony, mascote do cereal, porque o pelo dele parece o de um tigre.
21
de outubro de 1987
Tony
é um gato estranho, Annie não fica sozinha com ele porque tem medo, o que não
quer dizer muita coisa porque essa menina tem medo de tudo.
Mas
nesse caso, acho que ela tem razão em sentir medo, ele tem um olhar estranho,
eu diria até maligno. É como se ele pudesse enxergar a sua alma e fosse capaz
de roubá-la só com o olhar.
Eu
não o deixo mais dormir no meu quarto, posso ouvir suas garras arranhando a
minha porta toda noite e seu miado agourento.
24
de outubro de 1967
Annie
está animada para pegar doces no Halloween. Ela chorou quando eu disse que esse
ano não vou, já estou crescida. Mas quando mamãe e papai disseram que ela poderia
ir com as crianças da nossa rua, ela parou de me importunar.
Tony
está a cada dia mais estranho. Às vezes, parece que ele se deleita com o nosso
medo. O rosto dele se ilumina quando ele vê o pavor no meu rosto e no da Annie.
Ed
riu-se de nossos temores, disse que o gato deve ser um servo dos espíritos da
casa.
27
de outubro de 1967
Ontem
à noite, vi Tony arranhando a porta do porão. Quando fui tirá-lo de lá, ele me
arranhou, na hora doeu pra valer. Mas o que aconteceu depois é que me fez
correr deixando até o gato para trás.
Ouvi
o que parecia ser um choro vindo do porão e senti uma brisa fria. Talvez fosse
só o Ed tentando me assustar.
Mamãe
e Annie estavam terminando os últimos ajustes da fantasia de bruxa que Annie
vai usar no Halloween.
30
de outubro de 1967
Coisas
estranhas aconteceram nos últimos dois dias. Posso jurar que vi portas e
janelas se fecharem sozinhas, como se alguém as tivesse fechado. Será que estou
ficando louca? Ninguém em casa viu, somente eu. Ontem, a luz do meu quarto
apagou sozinha.
Tony
insistir em tentar entrar no porão, mamãe me mandou busca-lo. Ouvi uma voz
feminina dizer “ajuda”. Peguei o bichano no colo e corri de lá com o coração
acelerado. Dessa vez, ele não me arranhou.
Não
contei para ninguém o que aconteceu, acho que é só coisa da minha cabeça.
31
de outubro de 1967
Papai
tinha razão, Ed não estava inventando quando disse que uma mulher havia sido
assassinada no dia de seu casamento. Foi bem aqui nessa casa.
Mamãe
e papai resolveram acompanhar Annie pegar os doces, todos dizem que essa cidade
é tranquila, mas preferiram não arriscar. Ed saiu com alguns amigos que fez
aqui e eu fiquei em casa.
Estava
assistindo TV e, de repente, ela desligou. Ouvi novamente a voz pedindo ajuda.
Isso tinha que acabar de uma vez por todas. Peguei uma vela e fui em direção ao
porão, Tony estava ao meu lado.
Para
minha surpresa, a porta estava entreaberta. Respirei fundo e entrei. Eu me
arrependo imensamente de ter feito isso. Lá estava ela, fitando-me com seu
olhar diabólico. O espectro do que um dia fora uma bela noiva. O gato tentou se
entrelaçar em uma das pernas dela, porém acabou por atravessá-la.
Corri
para a sala e tentei em vão abrir a porta, ela estava trancada. A da cozinha
também estava. Então corri para o meu quarto para me esconder. Sei que não foi
a decisão mais inteligente porque ela pode facilmente passar pela porta.
Estou
escrevendo tudo o que vi porque se algo me acontecer, todos vão saber que foi o
fantasma da tal noiva e da minha hist...
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