O Deus do Submundo - C. B. Kaihatsu



Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Ed, Natanael e Carlos, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
C. B. Kaihatsu ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.

O Deus do Submundo

 C. B. Kaihatsu


“Forever wrapped in darkness
The forgotten valleys of Hades”1
(Bathory)

Apolônio entrou no tribunal do submundo com passos vacilantes, avistou os três grandes juízes e um frio tomou conta de sua alma quando seu olhar cruzou com o juiz supremo daquele julgamento, o próprio Hades, deus do submundo.
Hades se regozijou com o medo nos olhos do homem, ou melhor do espectro do homem. E saboreando cada palavra, disse soberbo:
— Vejo a injustiça exalar de você, meu jovem! Vocês temem tanto a mim! Não ousam dizer meu nome e nem me fazem altar. Tu deverias saber que não cabe a mim partir o fio da vida. Vês a injustiça? Sua alma só é minha no pós-morte. Antes disso, nada posso fazer a ti!
Apolônio manteve um silêncio sepulcral e o rei dos mortos continuou seu discurso.
— Erroneamente, os mortais atribuem ao senhor do mundo inferior a dura pena quando essa lhe cabe. Não é Minos, Radamanto e Éaco que o fazem. Tampouco eu, ai de mim, que agora sou o seu senhor. O destino dos mortais é selado de acordo com sua conduta em vida. Hades só é responsável por fazer cumprir a sentença.
O homem temeu pelo que seria de sua parte imaterial na eternidade, quando era criança, ouviu muitas histórias dos castigos que Hades impingia aos humanos. Sabia que dificilmente iria para os Campos Elíseos, não foi tão virtuoso em vida, mas não merecia o Tártaro. O Campo de Asfódelos seria de bom tamanho.
— Hades precisa pensar. Você é difícil Apolônio. Hades e seus juízes têm muitas dúvidas quanto ao que fazer com você. — Disse o deus retomando seu monólogo.
Ao ouvir o quase infindável discurso de Hades, Apolônio não pode deixar de notar o quanto o deus era vaidoso, arrogante seria a melhor palavra.
— Hades conhece seus pensamentos mais íntimos no submundo, Apolônio, seu tolo! Quer dizer que achava o seu senhor pedante? — Perguntou Hades com um sorriso malicioso.
— Não... desculpe os meus modos, senhor! Não tive a intenção. Eu não... — balbuciava Apolônio.
— Tarde demais! Néscio! Insolente! Achou mesmo que poderia enganar o mestre dos ardis? Sua sentença dada está! Seu cárcere eterno será em Tártaro. Está feito! — Proclamou Hades altivo.
Apolônio soltou um grito inumano tamanho era seu pavor. Mas resignou-se e seguiu seu caminho, aceitou sua sina. Sua alma para sempre vaguearia pelos cantos mais profundos do reino de Hades.

1-      “Sempre envolto em trevas. Os vales esquecidos de Hades” – Trecho da música Hades da banda sueca de black metal Bathory.





Comentários

  1. Talvez o deus do submundo realmente merecesse governar um mundo de escuridão e tormento. O coração dele era assim.

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