O Longo Dia das Bruxas - C. B. Kaihatsu
Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Ed, Natanael e Carlos, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
C. B. Kaihatsu ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.
O Longo Dia das Bruxas
C. B. Kaihatsu
“Fear
of the dark, fear of the dark
I have a constant fear that something's always near
Fear of the dark, fear of the dark
I have a phobia that someone's always there”
I have a constant fear that something's always near
Fear of the dark, fear of the dark
I have a phobia that someone's always there”
(Iron
Maiden)
Salem,
1992
Era
31 de outubro, Rachel Evans levantou animada, esse seria o primeiro Halloween
no qual ela não sairia para pedir doces. Havia recém-completado 15 anos e seus
pais deixaram que ela fosse a uma festa.
Sua
fantasia não era das mais originais, ela se fantasiaria de bruxa, talvez metade
das garotas que estivessem na festa o fizesse. Colocou o disco Nevermind no toca-discos e enquanto
ouvia a música terminava os últimos ajustes no seu traje de bruxa.
A
mãe foi até o quarto chama-la para ir ao supermercado, ela havia esquecido de
comprar os doces e não queria ter o jardim vandalizado pelas crianças. Seu
olhar era de reprovação pelo som que predominava no ambiente, ela não entendia
como os jovens de hoje gostavam desse tal de grunge e o porquê de estar tão na moda. Rachel a acompanhou sob
protestos, ainda não tinha dado o toque final à fantasia.
Às
dezenove horas, Rachel já estava pronta, esperava a mãe ansiosamente na sala de
estar. Ela vestia uma túnica preta, chapéu de bruxa também preto e no rosto uma
maquiagem fantasmagórica.
A
mãe estacionou o Chevrolet Lumina APV na frente da casa de Lauren, a anfitriã
da festa, repetiu mais uma vez todas as recomendações sobre garotos e bebidas e
se despediu de Rachel.
A
mãe da garota mal sabia que essa seria a menor de suas preocupações, os pais de
Lauren estariam presentes na festa, a mãe fantasiada de Lily da família monstro
e o pai de Drácula. Não havia bebidas alcoólicas, eram apenas crianças se
divertindo. Os pais de Lauren fizeram um ponche sem álcool e a comida da festa,
bem como sua decoração tinha o Halloween como tema.
Na
sala havia um antigo relógio de pêndulo, quando deu vinte horas, o mesmo fez um
barulho ensurdecedor. As luzes começaram a piscar até tudo ficar numa completa
escuridão. Gritos ecoavam pelo ambiente que só cessaram quando uma risada
diabólica tomou conta do lugar.
Uma
luz de origem desconhecida iluminou o rosto de uma mulher extremamente pálida que
vestia uma túnica púrpura. A luz ficou mais intensa e revelou mais cinco
mulheres ao lado dela, todas com o mesmo traje.
—
Meninas, onde está a nossa boa educação? Peço desculpas, mas faz tanto tempo
desde nossa última visita a Salem que, às vezes, perdemos o jeito.
—
Quem são vocês? — Perguntou o pai de Lauren.
—
Vocês ficam cada vez mais patéticos! — disse a mulher mirando o homem com
desprezo — Nós somos filhas de Salem. As filhas que a história tentou apagar.
Mas nós sempre voltamos para fazer vocês lembrarem e... pagarem.
—
Martha, ligue para polícia! — Disse o homem vestido de vampiro.
—
Polícia? És mesmo um tolo! A polícia não pode lhe ajudar. Meu nome é Violet. Estamos
aqui para que vocês paguem pelo meu assassinato e o de minhas irmãs da magia.
Em 1692, vocês nos julgaram e condenaram à morte. O desconhecido causa medo aos
homens. Estão com medo agora?
A
pergunta não obteve resposta, o medo emudecera a todos. Então Violet continuou
seu discurso, talvez mais para si mesma do que para as outras pessoas
presentes.
—
Vocês não puderam compreender a dádiva que eram nossos poderes e então nos
sentenciaram. Em mim restou apenas o desejo de vingança. E é isso que o Clã das
Sete veio fazer essa noite.
—
Sete? Mas vocês são seis. — Rachel falou espontaneamente e ao perceber o que
tinha feito, tampou a boca com as mãos.
—
Bem observado, criança! E obrigada por se revelar a mim de bom grado. Somos
seis porque o clã ainda não está completo. Desde o dia em que fomos
exterminadas, o meu espírito volta a essa maldita cidade. A cada 50 anos, no
dia 31 de outubro, recruto uma de nós. Uma mulher que pertenceu a linhagem das
Bruxas de Salem. Hoje é um dia de glória! Rachel, junte-se a nós. — Disse
Violet, estendendo a mão direita para Rachel.
—
Não!!! — Rachel gritou.
—
Não há como fugir do seu destino, Rachel! Você sabe. Recorda-se de eventos
estranhos que sempre ocorreram ao seu redor? Sim, eu sei que sim. Não renegue a
magia que há em você. Venha conosco, hoje daremos início a uma nova era. A Era
das Bruxas!
Rachel
segurou a mão de Violet e as sete mulheres formaram um círculo. Os outros não
conseguiam se mexer, apenas observavam com horror o que se seguia.
De
olhos fechados, elas proclamavam palavras ininteligíveis. Era estranho, mas
Rachel sabia cada palavra dessa língua desconhecida.
Todos
aqueles que foram acusados de bruxaria e os descendentes de suas linhagens
levantaram do túmulo em busca de vingança. Fora uma noite banhada de sangue.
No
dia seguinte, não havia viva alma na cidade de Salem. As autoridades não sabiam
explicar o que havia acontecido na cidade. Todos mortos. Ninguém no país quis
se mudar para lá. A expressão no rosto de cada morto era a de pavor. Salem logo
tornou-se uma cidade fantasma. Alguns poucos jovens apareciam por lá com uma
câmera na mão na esperança de filmar alguma atividade sobrenatural. O episódio
ficou conhecido como “O Longo Dia Das Bruxas”.
Comentários
Postar um comentário