Caçadores de Almas - C. B. Kaihatsu



Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Ed, Natanael e Carlos, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
C. B. Kaihatsu ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.



Caçadores de Almas

 C. B. Kaihatsu


Waterford, 1348

O mundo já não era mais o mesmo, todos tinham medo, inclusive Siobhan. A menina tinha apenas treze anos, mas sabia que o mal estava por toda parte. Não entendia o motivo, o padre Gilley disse que era porque todos eram pecadores e que eles deviam rezar mais. Siobhan, pensou que ele deveria estar certo e pôs-se a rezar com mais fervor e por  isso, aumentou a duração de suas orações diárias.
“Não bastasse essa maldita doença, as almas do nossos estão sendo roubadas”, era o que Siobhan pensava toda vez que se ajoelhava para orar. Ela conhecia as histórias sobre as criaturas caçadoras de almas. Sluagh, era o nome que ela tinha até medo de pronunciar em voz alta. Eram os espíritos daqueles que foram grandes pecadores em vida, voavam em bandos atrás das almas daqueles que estavam fazendo a passagem da vida para morte.
A maioria das janelas das casas em Waterford ficavam fechadas, uma tentativa de impedir a entrada dos Sluaghs. Porém as mortes eram tantas, não era possível salvar todas as almas.
Em poucos dias, Siobhan viu seu irmão mais velho, Gorrie, definhar. Ele tinha febre, sentia muitas dores e calafrios. As manchas escuras tomaram seu corpo, Gorrie sabia que ia morrer, ele delirava, mas num breve momento que parecia ser de lucidez, suplicou para que Siobhan abrisse a janela. Ele queria ver as estrelas uma última vez.
Mesmo contrariada e com medo, Siobhan compadeceu-se com o sofrimento do irmão e atendeu seu último pedido. Quando Gorrie estava prestes a dar seu último suspiro, a expressão sofrida no rosto da menina deu lugar ao horror. Uma horda de Sluaghs adentrou o quarto, eles eram a coisa medonha que a garota já havia visto. Emudeceu, tamanho era seu pavor, apenas assistiu aquelas criatura sugarem a alma de Gorrie. Eram criaturas horrendas vestidas com túnicas em farrapos, feições cadavéricas e a pele possuía uma aparência necrosada.
Lágrimas rolaram pela sua face e lhe queimavam o rosto como se fosse um ácido. A alma de Gorrie estava condenada para sempre e ela se culpava por isso.
No dia seguinte, Siobhan começou a se sentir mal, ficou acamada, logo as manchas escuras também surgiram. A família Flynn deixou todas as janelas fechadas dia e noite, não queriam perder a alma de mais um ente querido, sabiam que a morte da menina era certa.
Contudo, Siobhan foi sua própria juíza e condenou a si mesma. Com seus últimos esforços, abriu uma fresta da janela e esperou pelos Sluaghs. Quando eles chegaram, seu sentimento não era de medo, mas resignação. Aceitou seu destino e deixou que aquelas criaturas malignas levassem sua alma também. 


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