O Cavaleiro da Morte - Meg Mendes



Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Ed, Natanael e Carlos, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
Meg Mendes ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.



O Cavaleiro da Morte

Meg Mendes



As superstições, os mitos e as lendas fazem parte da cultura de todos os povos. E assim o era em Tuam, uma cidade do condado de Galway. Lá, contava-se a lenda o cavaleiro da morte, que para salvar sua amada teria dado a própria alma e perdido a cabeça.
Séculos se passaram e a população da cidade ainda respeitava o que a tradição mandava. Ao cair da noite todos se refugiavam em suas casas para escapar da morte.
Rovena era uma jovem camponesa, acabara de chegar na idade adulta e muitos a tinham como louca. Ela falava de sonhos estranhos e de vozes em sua cabeça. Aquela era uma época supersticiosa e as afirmações da moça faziam todos se afastarem.
Ela afirmava que Dullahan, o cavaleiro da morte, chegaria em seu corcel negro e com chicote feito de ossos da espinha dorsal de um humano.
O dia havia estado escuro e nublado, o vento ricocheteava e poucas pessoas se atreviam a sair para as ruas.
Rovena há muito padecia com febre e intentava em sair para ir ao templo de Brigith, ali encontraria conforto, cura e calor. O fogo sagrado da deusa era sempre mantido ardendo, as sacerdotisas do templo o alimentavam dia e noite.
Era tarde e as estrelas não iluminavam o caminho. Elas estavam encobertas por densas nuvens e a noite era a mais escura que a jovem já vira, mas ainda assim, seguia em frente apertando a capa ao redor de seu corpo febril.
De repente o trote de um cavalo a fez diminuir o passo e sair do meio da estrada. Ao olhar na direção do som, uma densa fumaça surgiu e ela pôde distinguir apenas a silhueta de um cavaleiro e seu cavalo.
Rovena sentiu um súbito calor, era uma sensação sufocante acompanhada de um cheiro acre.
O som dos cascos do animal imitava o bater do coração da moça e ia ficando mais alto. Então ela pôde ver o cavaleiro. Ele trajava uma armadura negra.
Na mão direita trazia um chicote de ossos e na esquerda, repousava a cabeça coberta por um elmo que deixava a face à mostra. Os olhos brilhavam com uma chama arruivada.
Dullahan, o cavaleiro da morte, estava parado, a cabeça olhando e sondando a alma da moça.
Rovena estava frente a frente com aquela figura espectral e mesmo assim mantinha-se em estado normal. A respiração do corcel exalava um ar quente que batia no rosto da jovem.
Seu olhar fixo na cabeça do cavaleiro demonstrava o espanto que tinha, pois como era possível que ele estivesse ali em pé sem a cabeça no lugar?  Ele era realmente o ser das lendas. O senhor da morte e que afligia a todos aqueles que entrassem em seu caminho.
Dullahan desmontou do seu cavalo e andou em círculos em volta da moça. Sua postura firme não deixava transparecer nenhum tipo de medo. Aquilo não era comum aos que entravam em contato com ele. Isso o intrigou bastante.
A noite ficava cada vez mais densa e a estrada ganhava uma fumaça de ar quente.
Ele finalmente havia encontrado sua amada, aquela por quem tinha dado a alma. Anos e anos se passaram desde que a vira pela última vez. E ela estava da mesma forma como se lembrava. Ele não tinha certeza se ela se lembraria dele, mas não a perderia novamente.
 Rovena olhava firmemente cada movimento que o cavaleiro fazia. Ao invés de sentir medo, sabia que ele não lhe faria mal algum.
 Foi então que ela se lembrou. Ela sabia sobre sua chegada, o via em seus sonhos e ouvir a sua voz em sua mente. Por que? Qual o sentido tudo aquilo tinha?
 Ajeitando a cabeça na mesma mão que segurava o chicote o cavaleiro estendeu a outra em direção a ela. Era um convite para que Rovena fosse com ele! Era chegada a hora de cumprir seu destino, ela se tornaria Banshee, a mensageira da morte.
Sem perguntar os motivos ela lhe estendeu a mão em retribuição e juntos subiram novamente no corcel.
O cavaleiro partiu em disparada para o meio da fumaça se perdendo noite adentro. Uma noite que não houve mortes na cidade.
 Ninguém soube o que aconteceu com a louca, como todos da chamavam. Tudo o que sabiam era que na noite em que o cavaleiro está para chegar muitos juram ver uma jovem de capa caminhando pelas estradas da cidade. Ninguém consegue ver seu rosto, mas quando ela parar diante de alguma casa, todos sentem o cheiro da morte se aproximando rapidamente com o barulho de cascos do corcel negro.
O grito de Banshee anuncia a chegada da morte e quando ela aponta para uma casa Dullahan leva a alma de um morador.


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