Cinco Minutos - Meg Mendes



Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Ed, Natanael e Carlos, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
Meg Mendes ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.



Cinco Minutos

Meg Mendes



O céu estava claro. Era de um azul muito belo. Hellen estava sentada esperando por seu namorado em frente a uma igreja. Fazia algum tempo que ela o aguardava e já começava a demonstrar sinais de impaciência.
Olhou para seu relógio e notou que eram quatro e vinte da tarde. No mesmo instante, levantou seu rosto novamente na direção do céu e notou uma luz branca muito forte no meio daquele vazio. Achou estranho quando do nada a luz se expandiu em um brilho amarelado e desapareceu.
Sentindo-se confusa com o que viu, abaixou o rosto por conta do incômodo da luz nos olhos e ficou espantada ao perceber que em seu relógio marcava quatro e vinte e cinco da tarde. Ela ficou pasma, pois toda a ação não teria durado nem ao menos trinta segundos, mas seu relógio dizia que haviam se passado cinco minutos.
O tempo haveria desaparecido, ou algo inexplicável aconteceu naquele breve momento?
Roger chegou e encontrou sua namorada totalmente pálida.
— Você está bem? — Perguntou preocupado.
— Eu vi uma luz brilhando no céu… passou cinco minutos em apenas trinta segundos… eu tenho certeza! — Ela falava rapidamente e sem conseguir ordenar as palavras.
Roger ficou perplexo com a atitude dela. Não havia conseguido entender nada direito.
— Tá, se acalma. Fala de novo, mas devagar que eu não entendi nada.
— Ok. — Ela respirou fundo e voltou a falar — Eu estava aqui te esperando e olhei para o relógio. Levantei meu rosto e olhei pro céu e vi uma luz branca do nada. — Tomando um pouco de fôlego tentou diminuir novamente o ritmo, pois percebeu que voltava a falar muito rápido. — De repente essa mesma luz simplesmente desapareceu, tipo assim rápido. Como que se por que eu olhei para ela e sumisse no mesmo instante. A questão é que quando eu abaixei a cabeça e olhei novamente para o relógio, haviam se passado cinco minutos. Cinco minutos Roger. Como o tempo some desse jeito?
Seu namorado olhava com uma feição incrédula para ela, mas achou por bem não contrariar. Sabia que ela se estressava muito fácil quando estava daquela forma.
— Acho que foi apenas coincidência, e de repente você não percebeu o tempo passar ao ficar olhando para o céu. — Disse por fim.
— Eu sei o que eu vi. — Foi tudo o que ela respondeu.
No dia seguinte Hellen caminhava ao lado de Roger o dia estava quente e o céu claro. De mãos dadas eles iam em direção do cinema. Ele ia falando sobre seu dia e ela olhava para o céu. Era um hábito que tinha.
Lembrou-se do dia anterior quando esperava por ele. Aquela luz tinha sido muito estranha.
— Quanto tempo temos? Vamos nos atrasar para a sessão. — Ela cortou o que ele dizia.
— Calma, temos tempo.
Pegou o celular para ver as horas. Notou que estavam um pouco atrasados. Era meio dia e dez. Ao olhar na direção de seu namorado novamente notou o brilho intenso da luz no céu. A luz começou se expandir e ela puxou Roger pelo braço gritando.
— Olha a luz que eu te falei ontem.
Quando ele olhou na direção apontada não havia mais nada.
— Eu juro pra você que tinha a mesma luz que ontem a menos de dez segundos.
Roger não disse nada.
Ela olhou para o celular e notou que já haviam se passado cinco minutos. Mais uma vez seu tempo havia sido roubado e ninguém mais parecia perceber.
— O tempo sumiu novamente! — Disse olhando fixamente para o relógio.
— O que você disse?
— Nada. — Respondeu secamente. — Deixa pra lá!
Enquanto caminhavam, começou a procurar na internet por relatos que fossem parecidos com o dela. Não gostava do que lia. Algumas pessoas diziam que aquilo poderiam ser alienígenas. Outros falavam que o roubo de tempo era associado a vistas de mundos interdimensionais. Mas nada comentava sobre a luz branca ou quando falavam, não se convergiam as teorias.
Roger percebeu que durante o filme ela não prestou a atenção e nada a não ser no celular. Apesar de estar bastante preocupado, não comentou.
Hellen estava dispersa. Não conseguia tirar os ocorridos dos dois últimos dias de sua mente. Ficava se perguntando porque somente ela percebia a luz brilhante. O mais estranho eram os roubos de tempo. Não conseguia se concentrar na prova. Olhou para o relógio da sala de aula, e notou que faltava pouco menos de dez minutos para terminar o tempo. Ainda assim, tentava de alguma forma realizar aquele teste de matemática.
Percebeu ao olhar para o lado em direção da janela que o céu estava totalmente limpo. Não havia nenhuma nuvem, mas algo lhe chamou a atenção e sentiu seu estômago gelar ao notar ao fundo um brilho em tons amarelados no céu.
Olhou rapidamente para o relógio novamente e percebeu que faltavam exatamente cinco minutos para o fim do tempo de prova.
Ao voltar novamente sua atenção para o céu, pôde ver o brilho da luz ficando intenso, e do mesmo modo que antes, expandiu-se em tons disformes, e desapareceu sem deixar rastros.
— De novo aquela luz!? — Gritou do nada no meio da sala.
— Aconteceu alguma coisa, Hellen? — Seu professor olhou estranho para ela. Alguns alunos que estavam na porta, pararam e voltaram sua atenção para a colega.
— Não viram aquela luz aparecer e sumir no céu?
— Você deve entregar seu teste agora. — Foi tudo que disse seu professor.
Estranhando a forma como todos olhavam para ela como se estivesse delirando, concentrou seu olhar no relógio novamente e mais uma vez seu tempo havia sumido. Sabia em sua mente que não havia se passado nem trinta segundos desde que olhara para o céu lá fora, e ainda sim o relógio dizia que o tempo havia sumido.
Começou a passar mal e simplesmente desmaiou no meio da sala de aula.
Quando voltou a si, alguns professores estavam a sua volta com olhares muito preocupados. Roger também estava ali. Ele conversava com o professor de matemática. Hellen pôde perceber que eles falavam sobre as tais visões que ela estava tendo. Eles pareciam realmente preocupados, e ela imaginava que era com relação a sua saúde mental.
Ela não estava bem, sentia-se muito enjoada e no dia seguinte ficou em casa. A paranoia tomava conta da garota. Ela olhava pela janela de seu quarto com atenção. O relógio logo ali ao lado.
Não precisou esperar muito.
O clarão era exatamente o mesmo e não levava mais que segundos para aparecer e sumir novamente, levando cinco minutos consigo.
Ela estava ficando louca? Tinha certeza do que via. Sabia que seu tempo estava sendo roubado. Mesmo não sabendo como ocorria.
Logo uma sonolência tomou conta de seu corpo, de sua mente. Não conseguia manter os olhos abertos. Então adormeceu.
Quando amanheceu, Roger estava ao seu lado. Todos em sua casa estavam preocupados.
Hellen olhava para seu namorado e já não sabia mais o que dizer. Ninguém acreditava nela. Foram quatro dias difíceis, e todos achavam que ela estava maluca.
— Que horas são? — Perguntou para ele.
Roger informou que eram dez da manhã. Ela apenas olhou para o lado em direção a janela. Pôde ver a claridade se formando nos céus. Roger assim que tinha lhe respondido as horas, havia se levantado e caminhado em direção a porta do quarto para chamar pela mãe dela. Naquele instante o brilho ficou intenso. Ela pôde ver claramente a luz dispersando e sentiu tranquilidade. Não importava ver as horas naquele momento, pois sabia que haviam sido roubados os mesmos cinco minutos.
Quando Roger, voltou-se em direção a cama onde sua namorada repousava, e mesma não estava mais lá! A janela estava trancada, e ele tinha certeza de que ela não havia passado por ele na porta.
Gritou pela mãe de Hellen que subiu correndo. Disse-lhe que ela estava ali, alguns segundos atrás. Ele apenas se virara para chamá-la, e ao voltar-se para a namorada, ela havia sumido. Intrigado, olhou novamente para o relógio. Haviam se passado cinco minutos!

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