O Sítio das Almas - C. B. Kaihatsu



Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Ed, Natanael e Carlos, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
C. B. Kaihatsu ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.



O Sítio das Almas

 C. B. Kaihatsu


17 de janeiro de 1987
Esse é o nosso primeiro dia no sítio da tia Hilda. Clarice, Heitor e eu viemos passar as férias aqui. Nunca estivemos nesse lugar antes. Não sei porque papai e mamãe nunca nos trouxeram aqui. Tudo que sei é que mamãe não gosta do sítio. Nunca mais veio aqui desde que era menina. Mas depois de muito tempo desabitado, tia Hilda veio morar no sítio, então mamãe viu que não tinha problema. Amanhã, eu e meus irmãos vamos explorar o local.


18 de janeiro de 1987
Eu mal consegui dormir ontem. Estou dividindo um quarto com a minha irmã Clarice. Eu ouvi passos no corredor e uma voz, que não consegui identificar, falava coisas desconexas. Tentei acordar a Clarice, mas ela estava ferrada no sono. Nem se mexeu. Só de lembrar daquela voz, sinto minha espinha congelar.
Espero que seja apenas minha imaginação. Essas eram para ser minhas melhores férias. Só Heitor e eu fomos explorar o sítio. Clarice não amanheceu bem. Estranho. Ontem ela estava ótima.


19 de janeiro de 1987
Hoje tive que brincar sozinha, Heitor também ficou doente. Choveu o dia todo, mas no casarão da tia Hilda tinha muito o que explorar. Mamãe está nervosa. Ouvi mamãe conversando com papai. Ela queria ir embora nas primeiras hora da manhã do próximo dia. Mas por insistência de nossa tia, decidiram partir amanhã após o almoço. Ontem também não dormi direito. Ouvi mais passos e mais vozes, mas não pude reconhecer nenhuma delas.
Acho que mamãe também não conseguiu dormir. Ela estava com olheiras profundas, parecendo um zumbi.


20 de janeiro de 1987
Hoje levantei para tomar o café da manhã, mas não encontrei ninguém na casa. Clarice já havia se levantado quando eu despertei. Acho que ela melhorou, ela não saiu do quarto nos últimos dois dias. Estou escondida no armário. As vozes que eu escuto toda noite, estavam diante da porta do meu quarto. Junto delas reconheci a voz da tia Hilda. Ela dizia algo como “falta a alma de uma criança ainda”.
Essas eram para ser as melhores férias da minha vida. Agora tudo o que eu queria era nunca ter vindo para esse sítio. Acho que algo ruim aconteceu aqui quando mamãe e tia Hilda eram crianças. Temo que aconteça de novo.
Passaram algumas horas e estou a salvo. Mas estou com medo, a casa foi tomada por um silêncio sepulcral.
A porta do quarto foi aberta, muito passos e vozes do lado de fora. Não acharam meu esconderijo. Estão quietos agora, contudo posso sentir a presença deles.
O que será que eles querem? Onde estarão os outros? Será que os verei de novo?
Preciso escreve para me manter ocupada e não...

***
Uns dez anos depois, uma família se mudou para o sítio. Um casal e três filhos, dois meninos e uma menina, ela era a caçula. Em seu quarto ela achou um diário datado de janeiro de 1987.
No dia seguinte, seu irmão amanheceu doente, tal qual a irmã da garotinha do diário. Sabia que ela e sua família precisavam sair de lá. Só não sabia como. Ouviu passos e uma voz que dizia: “Hoje, pegaremos a alma da garotinha”.

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