Hugin e Munin - Meg Mendes

Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Morphine, Natanael e Carlos, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.

Meg ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.

Hugin e Munin

Meg Mendes

Não se sabe ao certo a origem dos corvos Hugin e Munin, eles eram sempre vistos em companhia de Odin, o Deus dos deuses. Eles voavam por toda Midgard, trazendo informações ao deus e sempre estavam sussurrando em seu ouvido.

O que os povos não sabiam, é que ambos já foram humanos.

Havia uma pequena aldeia onde um jovem casal fazia planos para o futuro. A moça era bela, com cabelos claros e pele macia. O rapaz, forte e altivo, tinha porte de nobre, mas nascera em uma família humilde. Viviam da pesca, entretanto a concorrência era grande e o mar não lhes trazia grandes fortunas. Apesar da falta de luxo, tinham muito amor.

Eles estavam juntos há algum tempo e talvez a sorte mudasse, o rapaz havia recebido uma chance de um novo ofício numa aldeia vizinha, enfim teriam a oportunidade de melhorar de vida.  

O rei intentava expandir seus domínios e naqueles tempos só se conquistava algo pelo fio da espada. Por isso havia mandado contratar aprendizes de ferreiro, homens que pudessem suprir a necessidade armamentista do soberano.

A cidade ficava a três dias de distância e seria necessária uma viagem por estradas desconhecidas para o casal.

Avançavam o máximo que conseguia com uma pequena carroça durante o dia. Viajar a noite era perigoso demais. As densas colinas se espalhavam ao norte no sentido em que se dirigiam. O tempo era gélido por toda extensão do manto negro da noite.

Em meio uma curva na subida do morro os ventos açoitavam tanto o pequeno transporte que eles acabaram perdendo o controle e despencando ribanceira abaixo. Não houve tempo para se despedir ou dizer uma última declaração de amor. A queda foi fatal para os jovens apaixonados. Era o fim daquela breve jornada. Todas as esperanças do jovem em dar uma vida melhor a amada, o levaram até aquele momento de dor.

Ao chegarem ao submundo, os jovens sentem dor e estão sozinhos, cada qual em uma parte do lugar de descanso eterno de suas almas. A moça chora e grita sem saber ao certo o que houve, onde estava e onde estaria seu amado. Então uma figura incomum surgiu, metade do corpo era o de uma mulher normal e linda, a outra parte estava morta e em decomposição.

Hela, a deusa do Reino dos Mortos Helheim que ficava nas profundezas de Niflheim, se aproximou e com sua voz potente perguntou:

— Por que choras tanto, pobre alma?

— Sinto muita dor e não sei onde estou. Encontre-me sozinha e com medo.

Devido à natureza da morte deles, era normal sentirem-se atordoados, mas a deusa viu algo mais naquela recém-chegada.

— Deveria haver mais alguém?

— Eu viajava com meu esposo, meu amor, meu maior tesouro. Então me vi aqui.

— Entendo. Sou a deusa que neste reino tudo governa. Conheço cada canto. Vamos até onde seu amado está para que possam se reencontrar uma vez mais.

Ao chegar onde o jovem rapaz estava, a dor era a mesma. A solidão lhe doía mais do que qualquer outra coisa. Ao se verem, ambos juntaram num abraço cálido e terno. Apesar de toda dor que sentiam, ao estarem juntos nada mais importava.

Hela se compadeceu das almas e propôs os transformar em mensageiros para que pudessem ficar juntos pela eternidade. Em troca, deveriam servir a Odin. Apesar da estranha proposta, a moça ainda assustada com tudo a sua volta, disse aceitar servir os deuses como forma de pagamento para ficar ao lado de seu amado. O rapaz apenas balançou a cabeça de forma positiva.

Assim a deusa o fez.

— Que o sopro do mundo se faça presente em forma de matéria e deem asas negras com vida eterna enquanto a Odin eles prestarem reverência.

O jovem casal elevou-se em voo batendo asas e transformaram-se em dois lindos corvos.

Hela deu a Odin os corvos Hugin e Munin, que se tornaram os mensageiros entre Asgard e os outros reinos.