Música Submersa - Morphine Epiphany


Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Morphine, Natanael e Carlos, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
Morphine Epiphany ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.



Música Submersa

Morphine Epiphany


Sentado, próximo às tranquilas águas estava um jovem músico. Seu espírito ansiava pela perfeição em forma de melodia. Entorpecido pela exaustão de sua busca, ele adormeceu. Quando finalmente despertou, a sonoridade das águas, a leveza da melodia dos ventos e toda a musicalidade das folhas nas árvores penetraram seus ouvidos o deixando em um transe de pura contemplação.
Era a música no estado mais sublime e natural!
O jovem completamente obcecado, seguiu a trilha das melodias adoráveis. Foi conduzido pelos sons até deparar-se com um homem elegante debaixo das cachoeiras. O homem tocava com maestria um violino que parecia ser esculpido pelas mãos de criaturas virtuosas.
Abduzido pela figura daquele talentoso homem, o jovem lhe perguntou:
— Meu Senhor! Como faz para reproduzir tamanha beleza em forma de música?
O homem sorriu com uma certa malícia e respondeu:
— Meu jovem! Essa é a música da natureza em toda a sua maestria.
Encantado com os movimentos, as palavras e toda a atmosfera daquela criatura, o jovem estava disposto a ser um aprendiz.
— Mestre! O senhor pode ensinar-me a mágica de sua música? Quero ser perfeito e admirável como a melodia que emana de seus imaculados dedos!
Honrado pela humildade do rapaz, o homem lhe fez uma proposta:
— Traga-me uma cabra amanhã e eu lhe ensinarei a dominar seu instrumento!
Sem questionamentos, o rapaz assentiu com a cabeça e aceitou a missão.
No dia seguinte, empunhando uma cabra, ele avistou o homem nadando totalmente nu nas águas.
— Meu senhor! Lhe trouxe a cabra!
— Vejo que és um jovem empenhado!
— Quando começamos? — perguntou o jovem.
—Tenha paciência, meu rapaz! Primeiro, vire-se de costas para a cachoeira e jogue o animal nas águas!
Lançou o animal morto que logo foi devorado pela criatura. Quando se voltou para o homem, cobrou-lhe a recompensa:
— Então, agora podemos ter a nossa primeira aula?
— Meu jovem! Para se obter a plenitude é preciso ter serenidade. Hoje, eu lhe ensinarei a afinar seu violino.
Após a primeira lição, o jovem foi embora ansioso pelo próximo encontro.
                                                    ********
Ao se aproximar das águas, o rapaz tentou chamar o homem, mas não sabia seu nome. Permaneceu procurando aquela figura entre as águas ou em alguma rocha. O homem novamente surgiu com o rosto na superfície.
— Vejo, que está ansioso pela nova lição!
— Mestre, qual o seu nome?
A criatura soltou:
— Fossegrimen! É assim que me chamam.
Relutante, o jovem tentou se afastar, mas a figura surgiu ao lado do rapaz conduzindo-lhe os dedos no violino. A natureza estava ali, naquele exato momento escorrendo pelos seus dedos e dominando finalmente o seu violino.
Delirante, ele tocava o som dos deuses e repetia inúmeras vezes o nome de seu mestre:
— Fossegrimen! Fossegrimen! Fossegrimen! Fossegrimen!
O mestre arrastava-o para as águas. Estava na hora da oferenda aguardada. O Fossegrimen submerso segurou o rapaz com força, empurrou com violência a carcaça para as profundezas. Não havia beleza na música! Os urros da morte eram abafados pelo fluido. Os dedos não conseguiam tocar mais a existência.
Vermelhas manchas se desenhavam ao redor do Fossegrimen enquanto, o jovem desaparecia na fome devastadora daquela criatura.
A música das águas era morte. 

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