Beba Do Meu Sangue - Meg Mendes
Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Morphine, Natanael e Carlos, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
Meg ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.
Beba Do Meu Sangue
Meg Mendes
Satoru nunca acreditou nas
histórias que sua bachan¹ lhe contava, também pudera, em pleno século XXI
acreditar nas lendas de mais de 500 anos era loucura. Porém sempre respeitou
tudo o que a sábia senhora dizia. Exceto naquele dia.
Ele possuía uma paixão muito
grande pela pintura. Uma renomada galeria havia se interessado por seus
trabalhos e pediu que ele levasse suas obras para que fossem expostas. Satoru,
procurava uma inspiração e decidiu procurar na internet por lugares calmos e
exóticos. Após algum tempo ele decidiu-se por onde faria seu melhor quadro.
Aokigahara era uma floresta
situada próxima ao monte Fuji no Japão. Devido à densidade das árvores, que
bloqueiam o vento, e à ausência de vida selvagem, era estranhamente silenciosa.
Contavam-se muitas lendas acerca da floresta. Algumas delas a relacionam com
demônios, fantasmas e espíritos malignos e é conhecida por ser um local comum
de suicídios.
Ao chegar lá ficou
impressionado, como podia ser associado a tanta tristeza um local tão
magnífico? Ali era tranquilo e silencioso como os sites sugeriam. Satoru soube
que conseguiria pintar algo extraordinário naquele cenário. Montou um pequeno
cavalete que levara consigo e ajeitou suas tintas, estava pronto para começar.
As pinceladas eram leves e
pareciam fluir para a tela como uma extensão de sua alma. Passou horas ali,
apenas pintando, derramando todo seu ser em cores e formas.
A noite se aproximava e ele
ficava maravilhado com a beleza que o local tomava. Era sombrio e fascinante.
A lua encoberta por nuvens
densas deixava a pouca iluminação entrar por entre os galhos. Cansado de
tropeçar nas raízes expostas das árvores, Satoru então sentou-se em uma delas a
fim de recuperar o fôlego. Algo dentro da mata se mexeu despertando-lhe um medo
irracional. Levantou-se assustado e olhou em sua volta. Chamou para saber se
havia alguém ali. Tudo que ouvira em resposta fora um barulho alto de algo
novamente a se mexer por entre as folhas.
Caminhou na direção do
barulho, mas seu instinto dizia que havia algo errado. Tomado de súbito,
começou a correr no sentido contrário. Quanto mais ele corria, mais ele se
afastava da área aberta.
Ele correu mais ainda para
dentro da floresta, sendo impossível encontrar uma saída. Continuava escutando
barulhos vindos de toda a parte da floresta. Então, em certo ponto, Satoru
bateu em algo que a faz cair sentado. Olhando para cima, Satoru viu uma grande
árvore velha, seca e com galhos pontiagudos como facas.
Sem saber ao certo o que lhe
perseguia, tentou olhar ao redor por detrás da árvore, mas não havia nada.
Tinha certeza que algo vinha em seu encalço. Ousou respirar fundo por um
segundo antes de decidir o que faria. Estava cansado e sem recursos ali no
escuro. Estava quase adormecido quando sentiu algo envolver seu tornozelo e o
arrastar.
O susto o fez despertar sem
entender nada, estava alerta e procurou o que lhe atacava. Ficou embasbacado
quando percebeu que um galho de árvore lhe segurava no ar. No mesmo instante
lembrou-se de uma antiga lenda que sua avó lhe contava sobre a Jubokko. Uma
árvore que se alimenta de sangue humano.
“Não ande pela floresta
sozinho Satoru, a árvore vampira pode pegar você. ” Ela lhe disse uma vez.
O Movimento que o galho fez
fora rápido e direto. Satoru não teve tempo para reagir. Como uma navalha, penetrou
em seu corpo em diversos pontos.
Um grito infernal saiu de
sua garganta, enquanto o sangue fluía da carne que ia sendo rasgada. As Jubokko
bebiam de seu sangue alimentando-se com sua energia. Sua vida desaparecia aos
poucos.
O rapaz se contorcia com dor
e o ar dos pulmões sumia aos poucos. Tentava desesperadamente se soltar dos
galhos que lhe roubavam a vida, mas era tarde. Seu corpo caiu sem vida no chão.
A terra respingada de sangue tornava-se sua última tela. Uma pintura marcada
pela horrenda morte que sofrera e que alimentaria mais uma vez as lendas que
Aokigahara sustentava.
¹ bachan significa avó
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