O Gashadokuro - C. B. Kaihatsu



Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Morphine, Natanael e Carlos, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
C. B. Kaihatsu ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.



O Gashadokuro

 C. B. Kaihatsu


Todos os moradores de Sapporo ansiavam pelo Festival da Neve, especialmente o estudante Naoki Chiba, esse era o evento favorito de Naoki. Em poucos dias os milhares de turistas chegariam à cidade.
Contudo, esse ano seria diferente. Três cabeças humanas foram encontradas em diferentes pontos da cidade, sem testemunhas ou pistas que pudessem levar ao que parecia ser um cruel assassino em série, que deixou para trás apenas um rastro de medo e morte.
Se o assassino não fosse encontrado logo, certamente o festival seria cancelado. A polícia local estava completamente desorientada, uma vez que os crimes não seguiam um padrão. As vítimas não possuíam relação alguma entre si, eram de classes sociais diferentes, gêneros diferentes e idades diferentes. A primeira vítima foi um homem de meia idade, a segunda uma criança e a terceira uma jovem que estudava na mesma escola que Naoki.
Os pais recomendaram que os filhos fossem direto da escola para casa e muitas pessoas passaram evitar sair à noite.
Todo dia depois da escola, Naoki visitava a avó. Naquela tarde, eles conversaram sobre os crimes que assolavam Sapporo. A avó disse que achava ser obra de um youkai, Naoki achou graça e disse a ela que isso era apenas lenda. Mas ela insistiu, afirmando que quando tinha mais ou menos a idade de Naoki ela viu um youkai matar um homem. Ele tinha a forma de um esqueleto, arrancou a cabeça do homem e sugou seu sangue.
Naoki se divertiu com a história e disse a avó que o Gashadokuro não existia, ele lembrava de ter lido algo sobre isso em um livro, ainda assim ela recomendou que o neto tivesse cuidado.
Segundo a lenda, Gashadokuro era um esqueleto gigante feito de pessoas que morreram de fome. Ele caçava suas vítimas à noite, arrancava suas cabeças, bebia o sangue, devorava a pele e órgãos e depois usava o esqueleto da vítima para ficar cada vez maior.
O garoto demorou-se tanto na casa da avó que acabou se atrasando. O sol já havia se posto quando ele foi embora para casa. Passou boa parte do caminho pensando na tal história do youkai. Não havia muitas pessoas na rua, todos estavam com muito medo, inclusive Naoki.
De súbito, ele ouviu um som semelhante a um chocalho, pensou ser sua imaginação, mas quanto mais se aproximava mais alto era o som. Apertou o passo e quando virou a esquina, deparou-se com uma cena que fez seu sangue congelar. Um esqueleto gigante arrancou a cabeça de um homem e a atirou próximo aos pés de Naoki que correu para o mais longe possível dali.
Ao chegar em casa, ele contou tudo o que havia acontecido aos pais que não acreditaram nele. O pai ligou para avó e pediu que ela não contasse mais esse tipo de história para Naoki.
No dia seguinte, quando ele foi para casa de sua avó, relatou a ela tudo o que havia lhe acontecido, diferente dos outros adultos, a avó acreditou nele. Aterrorizado, o menino pergunto a ela o que deveriam fazer.
— Naoki-chan, não há nada que se possa fazer. Cuide-se, vá para sua casa antes do anoitecer. Um youkai não fica muito tempo no mesmo lugar. O Gashadokuro já matou antes e matará de novo. Esteja sempre alerta.
Tudo o que a avó havia profetizado havia acontecido. Passaram-se dias sem que ocorresse outra morte, o festival aconteceu sem problemas e o caso da polícia ficou sem solução. Mas Naoki sabia que algum dia o Gashadokuro voltaria.


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