Necrotério - Meg Mendes


Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Morphine, Naiane e Natasja, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
Meg Mendes ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.



Necrotério

Meg Mendes


No coração de cidade de São Paulo, Alberto se preparava para seu primeiro dia no novo emprego. Ele tinha conseguido uma vaga de vigia noturno em um necrotério. Para muitos aquele não era o melhor serviço, mas era um emprego e ele precisava muito.
Ao terminar de subir a rua da Consolação, deparou-se com a imponência do famoso Hospital das Clínicas. O lugar era realmente lindo. Possuía um misto de arquitetura clássica com aspectos modernos. 
Quando se apresentou em uma das portarias, foi informado que a equipe diurna já o aguardava para lhe passar as orientações.
Alberto estava empolgado. Fazia muito tempo que estava desempregado e a sensação de uma nova oportunidade lhe causava felicidade. 
Os rapazes da vigia que trabalhavam durante o dia mostraram as áreas que ele deveria focar em suas rondas. O necrotério não fica muito distante dos prédios de atendimento, mas ainda assim, estava isolado. 
Ele não pode deixar de notar que entre os companheiros havia uma tensão. Eles se entreolhavam enquanto orientavam o novato. Em seu posto de serviço, deveria ficar sempre atento as câmeras de segurança. Carlos, o supervisor, ao passar por uma das portas de ferro que ficava na ala oeste do local informou que ali não seria uma boa ideia ficar andando sozinho a noite. Ele disse que independente do que Alberto visse nas câmeras de segurança, não deveria ir aquela área.
Alberto forçou um sorriso desdenhoso para seus colegas. Ele não acreditava em coisas sobrenaturais. Carlos insistia que aquela área era definitivamente assombrada e que se ele temesse por sua vida, não desobedeceria aquela ordem.
Para livrar-se logo daquela situação, ele apenas concordou e tomou nota das últimas orientações. 
A noite quando tudo estava silencioso, apenas o brilho do monitor lhe acompanhava. Ele estava sentado observando atentamente as câmeras. Tomava um café para não pegar no sono. Fazia muito tempo que não trabalhava durante o período noturno, e não podia perder aquele emprego. 
Ele quase derramou o liquido quente em seu dorso quando percebeu o movimento de uma maca pela câmera do corredor da ala oeste. Teve a nítida impressão de que a maca havia se mexido sozinha. Olhou atentamente para ver se por um acaso não haveria alguém lhe pregando uma peça. Afinal era seu primeiro dia ali. Entretanto não havia ninguém.
Tornou a se assustar quando a porta abriu e depois fechou sem que alguém tivesse passado por ela. Decidiu que deveria olhar o que estava acontecendo. Sentia que seus colegas de alguma forma estavam fazendo aquilo para assusta-lo.
Ao chegar no local andava passo a passo bem lentamente. Chamou por Carlos e por seus colegas, mas não recebia nenhuma resposta. Já estava ficando cansado daquela brincadeira. Tomou coragem e passou pela porta.
Na manhã seguinte quando o supervisor chegou, notou que Alberto não estava em seu posto. Ficou preocupado e decidiu olhar nos monitores as gravações. O que viu o deixou perturbado.
Em uma das imagens, o novo vigia noturno entrava pela porta da ala oeste sozinho durante a madrugada. De repente ela se abriu com violência e o corpo de Alberto foi arremessado para o corredor com muita força. Pode-se apenas perceber o espectro de uma mão arrastando novamente para dentro da ala o vigia desacordado.
Nunca encontraram o seu corpo, e até hoje as portas daquele local continuam lacradas.

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