A Igreja dos Candelabros - Natasja Haia
Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Morphine, Naiane e Natasja, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
Natasja ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.
A Igreja dos Candelabros
Natasja Haia
Joana e seus amigos graduandos do curso de
História da Arte, próximo a um pequeno vilarejo ao sul de Portugal, escolheram
como tema para produção de um artigo “Mistérios escondidos no interior da
capela dos Candelabros: seus enigmas e desaparecimentos datados do século XVI”.
O grupo, exceto Joana, estava receoso, pois a capela se encontrava desativada
pela igreja católica e interditada sob forte vigilância da delegacia local.
As reuniões para pesquisa começaram, e
aqueles jovens já intrigados devido às diversas lendas que circulavam pelo
vilarejo e os desaparecimentos documentados e catalogados pelo mais antigo e
ainda ativo jornal impresso local, deram o passo inicial a submersão naquilo
que poderia gerar muitos prêmios e publicações em revistas científicas ou aos
seus fatídicos desaparecimentos. E no meio de todos aqueles livros e cópias de
páginas amareladas grudadas na parede, uma informação era, sem que eles
desconfiassem, taxativamente verdadeira “Uma
vez iniciada a jornada se tornará impossível retroceder”.
— Santiago Fernandes
— Joana Almeida
— Leonor Coimbra
— Afonso Guimarães
— Thiago da Veiga, a
professora anunciou pausadamente.
— Peço
que os cinco membros venham até a frente da sala e expliquem como anda a
pesquisa referente ao artigo e as dificuldades por vocês encontradas.
Lembrem-se que como futuros historiadores, a materialidade necessária será
encontrada, muitas vezes de vestígios cuidadosamente disfarçados, encobertos,
esquecidos e enterrados por um deus poderoso e impiedoso: o tempo. E os enganos
e falsas trilhas marcadas pelos tão insignificantes quantos nós, ancestrais. No
fim, a glória será somente o que foi escrito, e nosso trabalho é que prevaleça
a verdade.
Nos dois meses subsequentes os cinco
alunos redigiram requerimentos, se dirigiram a párocos, delegados, juízes,
enviaram uma carta ao Vaticano, mas não conseguiram a permissão para adentrar a
capela. Como última alternativa, optaram por uma invasão, cuidadosamente
planejada, para que não fosse deixados sinais de arrombamento e para passarem
sem serem notados pelo segurança que ficava em uma guarita no início da
estradinha que levava até a igreja.
Ao percorrer a trilha, o frio e a respiração
ofegante se tornava cada vez mais pulsante, mais ruidosa e as luzes das
lanternas iam de encontro a diversos símbolos ocultistas, na terra, pendurados nas
árvores. Uma espécie de áurea mórbida e amedrontadamente arrependida crescia em
volta deles, enquanto seus olhos vidrados seguiam cuidadosamente, em silêncio,
em direção à entrada.
— Meu
Deus!
—
Abaixem-se.
— Oh!
Não.
A última coisa que viram, foi o ritual que
acontecia desde o século XVI, uma vez a cada centenário, tendo como combustível
jovens curiosos e corajosos para serem entregues a um perigoso demônio que só
ficava preso aquela circunferência através desse impiedoso sacrifício.
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