A Rua da Casa Azul - Natasja Haia
Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Morphine, Naiane e Natasja, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
Natasja ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.
A Rua da Casa Azul
Natasja Haia
Advertindo ao nosso
querido leitor, as
localizações
catalogadas nesse conto são
meramente ficcionais.
Para sua segurança
algumas informações
permanecerão em sigilo
e outras serão
codificadas.
Dizem que o melhor da festa
é esperar por ela, nesse caso realmente foi. Os preparativos iniciaram como
geralmente começa o burburinho das baladas no século XXI, um post, nele estava
escrito: Halloween, dia 28/08, as 23:00 horas, Na famosa Casa Azul, rua
labirinto 123, tema: Abóboras Alucinógenas.
Samantha estava muito empolgada para
participar da sua primeira balada, e principalmente com o tema que muito lhe
interessava. As meninas que tinham entre 17 e 19 anos montavam seus figurinos
enquanto assistiam a filmes de terror e falavam sobre garotos. Como é
empolgante a juventude e magnífico os seus clichês. Que para nós só se tornaram
clichês porque já foram vividos e revividos, estamos no fim do encanto das
primeiras descobertas, sob a proteção do amadurecimento. Sobrevivemos a esses
tempos. Doces, tênues e intrigantemente obscuros e perigosos.
A semana não tardou a passar, Samantha era a
mais assustadoramente deslumbrante das amigas, seu longo vestido preto marcado
na silhueta contrastava com seus cabelos longos encaracolados e aloirados. Uma
enorme cartola na cabeça fazia analogia à magia, um misto de bruxaria e
alquimia. A primeira parte da boate era acessada por uma escada que levava ao
porão. A sensação quando se chegava ao corredor principal era totalmente
psicodélica, e entre um ambiente escuro, paredes pretas e pentágonos em néon,
uma imensa abóbora eletrônica falante recepcionava com as seguintes palavras:
“Bem
vindos à noite sem volta, ou melhor, a muitas voltas”.
A noite transcorreu, a madrugada
enlouqueceu, a música trance as proporcionou uma noite inesquecível. E como
todo fim de semana, esse também passou. A rotina de livros, estudos e conversas
no fim da tarde na praça retornaram, porém, agora Samantha raramente aparecia.
Suas noites mal dormidas começaram a sugar sua beleza, seu aspecto se tornou
magro e exausto e ela começou a frequentar sem cessar a misteriosa casa azul.
Suas amigas já não aguentavam mais sua
estranheza e obsessão por aquelas noites psicodélicas e suas teorias malucas a
respeito de algum mistério que a perseguia. Seus sonhos se tornavam mais
nítidos e eram sempre os mesmos. Uma garota de aproximadamente vinte anos,
sentada com semblante estático e a espera de algo.
Vinte e cinco anos antes
Na varanda de um charmoso casarão bucólico,
uma cadeira de madeira acolchoada grunhia. Isadora havia ido morar no interior
europeu depois que todas as suas amigas morreram em sua casa azul, em uma noite
que aproveitaram a viagem de seus pais para fazer uma festa de Halloween. Nas
certidões de óbito constava – overdose – mas a verdade que presenciou foi uma
possessão demoníaca coletiva após uma inocente brincadeira de invocar o oculto.
A casa se tornou poderosamente devastadora e escolhia corações puros para levar
a ruína.
Jornal do Povo (algum tempo depois)
Samantha sobreviveu a um
incêndio em que morreram cerca de cem jovens em uma dessas festas psicodélicas.
E hoje trabalha na construção de uma ONG para estudos de possessões demoníacas
correlacionadas a dependências em drogas.
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