Repeat - Morphine Epiphany


Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Morphine, Naiane e Natasja, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
Morphine Epiphany ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.



Repeat

Morphine Epiphany


O vídeo se repetia pela décima vez, enquanto a fumaça do cigarro percorria a sala da antiga casa. Sentado no sofá manchado de escarlate, Edgar assistia as imagens de Sofia.
Encarava o vídeo com uma certa obsessão e se perdia no olhar vazio da namorada. A sala mostrada no vídeo era a mesma, o sofá era o mesmo e o tempo parecia distante.
Era um vídeo curto. Edgar não se lembrava de todos os detalhes, mas sabia que era um personagem sombrio naquela mídia.
Sofia aproveitara a folga do trabalho para colocar sua leitura em dia. Sabia que Edgar passaria o dia na empresa e estava contente com esse curto tempo livre para si mesma.
Jogou-se no sofá sem manchas e começou a se deliciar com o livro. As páginas iniciais foram um deleite. Em transe com a leitura, Sofia esqueceu completamente o mundo exterior. Só retornou para os braços da realidade, quando uma névoa sombria surgiu ao seu redor.
Tentando enxergar algo, ela conseguiu reconhecer os sapatos. Levantou o olhar e se deparou com uma figura distorcida com olhar humano. Eram os mesmos sapatos e os olhos eram familiares.
Sofia não conseguia gritar. Engasgada pelo medo, nenhuma sílaba se atrevia a sair. A figura metade humana se aproximou da mulher, avançou sobre ela e quando um ruído de clamor tentava sair da boca de Sofia, a criatura abriu a boca distorcida e olhou diretamente nos olhos dela. Uma fumaça escura e pavorosa saía da boca de Sofia e encontrava abrigo na terrível bocarra.
O cadáver permaneceu jogado no sofá, enquanto a criatura aos poucos recuperava a sua forma natural. A figura novamente humana se aproximou de uma câmera e encerrou a gravação.
Edgar olhou para Sofia tomada pelas trevas. Jogou a câmera no chão, abriu a gaveta da estante e pegou um revólver. Sentou-se ao lado da namorada. O ruído da arma se espalhou pela sala e rapidamente silenciou o cenário.
Semanas depois, Edgar estava na mesma sala, sentado sob a mancha de seu sangue, com os mesmos sapatos, repetindo o vídeo pela décima vez com todas as suas sombras sendo reprisadas sem parar. 


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