O Cheiro da Fome - Meg Mendes


Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Morphine, Naiane e Natasja, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
Meg Mendes ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.



O Cheiro da Fome

Meg Mendes



A fome naquela noite aguçava o único sentido do qual realmente precisava, o olfato. Sentia o cheiro de medo e suor que aquele humano emanava.
            Podia sentir também o cheiro dos pinheiros altos da floresta e de um rio ao longe, mas isso não tirava sua concentração. Havia apenas um odor a seguir.
Jorge corria o mais rápido que suas pernas lhe permitiam, os olhos estavam embaçados pelas lágrimas. Ele e Tatiana, sua esposa, estavam acampando para comemorar os 10 anos de casamento, quando ela ouviu algo na mata. 
— Deve ser só um bicho! — foi o que ele disse. 
Mal sabia que corriam perigo latente. Jorge só percebeu o que acontecia, quando Tatiana foi puxada com violência. Não conseguiu ver direito, estava escuro, mas sentiu quando o sangue de sua esposa respingou em seu rosto como um jato. 
O torpor deu espaço ao instinto de sobrevivência e ele começou a correr.
A criatura adorava quando eles corriam, dava-lhe mais prazer na caçada. Com a mulher não houve como se conter, ela exalava um cheiro adocicado que só as humanas prenhas tinham, isso lhe aguçou o incômodo causado pela fome. Com o homem, porém, não haveria pressa.
Ah, o cheiro! Qualquer um que pudesse senti-lo enlouqueceria. Era uma mistura de sentimentos humanos que davam força à criatura que se esgueirava pelas árvores. 
Jorge ouvia o farfalhar das folhas e galhos e pressentia que o que quer que estivesse em seu encalço, estava ficando para trás. Permitiu-se olhar e percebeu que não havia nada. Retomou a corrida, mesmo que o tivesse despistado, precisava sair da mata.
A lua iluminava o caminho com uma luz fraca, assim ele não percebeu uma raiz de árvore sobressalente. Tropeçou e caiu sem que tivesse onde se segurar. Amparou a queda com as mãos que arderam no mesmo instante em que tocaram o chão de terra e folhas secas caídas. Ele tinha se machucado e as palmas incomodavam, sentia o sangue brotando empapando a pele. Entretanto não havia tempo, ele precisava fugir.
O cheiro de sangue, doce e quente, penetrou nas narinas do ser e ele urrou. Sobressaltado, Jorge caiu novamente, mas desta vez não conseguiu levantar e correr. 
Uma sombra se projetou sobre ele. Foi a última coisa que o homem viu. 

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