La Nuit - Natasja Haia



Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Morphine, Naiane e Natasja, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
Natasja ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.



La Nuit

Natasja Haia


*conto inspirado no quadro Terraço do Café à Noite de Vincent Van Gogh


Há muitos esconderijos na França, todos belos para servir e tomar café em uma noite solitária. É claro que as cafeterias não são só dos solitários, ainda bem, há famílias, crianças, enamorados, isso é reconfortante. Se você procura dias de magia e glória, o aconselho a ficar em Paris, mas se você veio à procura de mistério suba um pouco ao sul e mergulhe na história dessa tela, nesse tom meio azul.
   Van Gogh escrevia seus versos com pinceis e tintas, já eu venho todos os dias a esse mesmo café que foi imortalizado através de sua obra para terminar de escrever meu livro “As mudanças que uma viagem traz”. Você pode encarar esse título de muitas formas, afinal, há enumeras maneiras de se deslocar, transcender é uma delas. Eu estava no penúltimo capítulo antes de ser presenteado por uma noite particularmente diferente, mas somente para aqueles que se atrevem a observar. Havia duas almas que sem saber logo se cruzariam, dois viajantes errantes. Ele parecia ter saído de um filme dos anos 80, seus olhos verdes percorriam as palavras de um velho folheto, tinha aproximadamente 25 anos, mas fumava como um velho prestes a dar seu último suspiro, ela, discretamente, observava o céu enquanto tomava um café com uma quantidade enorme de espuma, provavelmente uma mistura de leite e chantilly, o doce, bem doce, em uma noite aparentemente gélida.
   Demorou apenas alguns minutos para que o destino os colocasse na mesma mesa. Um vento frio vindo do oeste soprou inesperadamente o folheto do Arthur em direção ao rosto de Ana, engatando entre seu pescoço e seus cabelos. Ele andou em direção a ela que lhe entregou o folheto e perguntou se ele teria um cigarro para lhe dar.
“Claro!”. Respondeu sentando-se a mesma mesa que ela enquanto puxava uma caixa de cigarro do bolso.”
“Obrigada! Poderia me emprestar o isqueiro?”
“Sim. Está sozinha?”
“Estou e você?”
“Sim, haverá uma apresentação, é um teatro próximo daqui. Gostaria de me acompanhar?”
   Ela não hesitou em acompanha-lo, mas infelizmente eu hesitei em segui-los, então não há muito que eu possa contar a vocês sobre a primeira noite daquele casal, somente que um ano após os vi novamente no terraço do café a noite, dessa vez ela estava sentada sobre a calçada com as mãos no rosto dele, não dava para saber se seus olhos verdes miravam o céu estrelado, o rosto de Ana ou algum horizonte desconhecido por nós. O sangue que jorrava do peito de Arthur se misturava a roupa escura de Ana que o lavava com suas lágrimas. Alguém gritou enquanto avistava a polícia “foi uma briga”, eu tomei nota. Cheguei perto para oferecer ajuda, porém os olhos misteriosos dela penetraram nos meus enquanto ela dizia “Não se pode querer transcender duas vezes sem que a segunda se torne uma tragédia”. Eu entendi, eles retornaram ao mesmo local um ano após para reviver o dia em que se conheceram, deveriam ter ido a outro café, talvez ter casado e tido filhos. É como uma frase que ouvi uma vez “Não se pode fazer a mesma viagem duas vezes”. Naquela noite seu último cigarro havia se apagado, a fumaça foi levada junto com um folheto por um beco da cidade até desaparecer na rua em que as lembranças encontram descanso. 
   

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