A Distância Entre as Sombras e a Queda - Morphine Epiphany



Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Morphine, Naiane e Natasja, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
Morphine Epiphany ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.



A Distância Entre as Sombras e a Queda

Morphine Epiphany


Conto inspirado na música ''Sleepwalking'' da banda Bring Me The Horizon
Entre a sinfonia das sombras e a agonia de seus ossos, Daniel despertou. Largado no tapete do quarto, sentia a pele repuxando e o fôlego se esvair feito uma fúnebre melodia que antecipava o luto.
Era a terceira vez naquela semana. Os episódios amedrontadores do sono se tornavam frequentes. Pensou em tomar algumas pílulas para adormecer por completo, mas logo, essa ideia se desfez. Ele queria enfrentar aquela experiência de forma sóbria. Precisava encarar as fotografias de sua mente.
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A televisão permaneceu ligada, a madrugada se aproximou e Daniel tentou manter os olhos abertos. Lentamente, os relógios paralisaram no mesmo horário. O jovem adormeceu profundamente. Imagens do seu cotidiano surgiam em seus sonhos e uma calmaria se instalava em seu corpo.
Com o avanço da alvorada, os olhos dele se abriram bruscamente. O quarto estava preenchido pelo som melódico que vinha das sombras. Os pés de Daniel o conduziram na direção das trevas. Seus olhos seguiam abertos, mas em pleno vazio. A música da escuridão dominava os membros dele.
Sussurros se misturaram com sílabas melódicas. Eram uma espécie de prece levando sua carcaça para um novo lugar. Os espelhos do quarto se multiplicaram e tomaram as paredes. Os sussurros ficaram cada vez mais audíveis.
Ele seguiu pelos corredores, desceu as escadas e abriu a porta da frente. Quando seus pés, tocaram o jardim, as sombras se aproximaram e o embalaram. Por algum tempo, os pés de Daniel ficaram leves e facilmente conduzidos. Palavras confusas e sussurradas atravessavam seus ouvidos e ditavam a direção a ser seguida.
 A sola de seus pés entrara em contato com uma superfície rochosa. Uma sensação dolorosa percorreu-lhe os pés. O sangue escorria, os sussurros se distanciaram e as sombras o deixaram livre. Ele recobrou a consciência quando seu corpo estava quase deslizando pelo precipício. Fôlego curto e desespero o acompanhavam.
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Duas noites sem dormir, após ser abandonado no precipício. As garrafas de café esvaziaram-se, os filmes começaram a deixar seus olhos pesados, o banho lhe trazia relaxamento. Resolveu investir em doses de água gelada no rosto para se manter desperto. Nada fazia efeito. A letargia era inevitável.
O esforço foi substituído pela sonolência e o organismo derrotado pelo cansaço. Não conseguia mais se manter em estado de alerta.
As sombras assumiram o controle e os murmúrios adentraram as têmporas de Daniel. Ele não comandava mais os seus passos, seus olhares e seus sentidos. A penumbra o abraçou.
Na escuridão, em pleno transe, foi transportado para o seu terror. Daniel, estava tentando se segurar enquanto o seu corpo flutuava Olhos arregalados, mas sem vestígios conscientes. Ele olhava o precipício ganhando distância durante a sua queda. O tempo parecia não prosseguir. Só existia sua carne prestes a ser dilacerada.
Sem ar nos pulmões e com a pele a ponto de ser completamente rasgada, ele se sentiu levemente acordado.
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O buraco apesar da profundidade, dava-lhe uma sensação confortável. Não sentia nenhuma costela quebrada. Nenhum sangramento. Estava seguro ali. A queda não lhe causou ferimentos e a realidade era absurda.
Ergueu-se para levantar e procurar uma saída daquele buraco. Suas pernas não responderam. Sua coluna travada e sua cabeça estática. O corpo queria levantar, as sombras lhe obrigavam a ficar imóvel.
Queria pronunciar alguma palavra, queria gritar, queria se mexer. O breu destruía suas forças. Pequenos pontos de luz despontaram no formato de dois olhos. Eles observaram Daniel e o cercaram.
Uma febre caminhava por todos os poros de sua matéria, causando-lhe explosões dolorosas. Os olhos da escuridão chegaram mais perto, roubando a respiração de Daniel. Os batimentos já não dançavam no ritmo da existência. Havia apenas o sombrio devorar perpétuo.

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