A Noite Eles Virão - Meg Mendes
Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Morphine, Naiane e Natasja, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
Meg Mendes ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.
A Noite Eles Virão
Meg Mendes
“Podia ser só mais um lindo entardecer em San
Miguel
Se eu não soubesse o que acontece quando a lua está
no céu
Mas quem mora por ali sabe bem como as coisas são
Sei que essa noite eles virão
E não vai sobrar nada de ninguém”
Santânico
Matanza
O escuro é onde as coisas ruins acontecem. É na
noite que os seres saem para caçar, é quando estão à espreita apenas esperando
um momento de distração. Eva e Laura se escondiam tentando prender a respiração
entrecortada e ruidosa provocada pelo medo e pela correria. Sentiam-se tolas
por terem rido da velha senhora que as tinha alertado, mas era tarde demais e
não havia mais nada a ser feito a não ser rezar.
***
Quando amanheceu, naquele dia as duas garotas se
empolgaram. Estavam a caminho da maior festa da faculdade. Era fim de semestre
e o pessoal da turma tinha alugado um sítio para o fim de semana.
Laura e Eva moravam juntas e queriam se divertir,
afinal, elas mereciam. Iam sacolejando no banco de trás do carro de um dos amigos,
a estrada de terra que levava até o sítio estava muito esburacada e levantava
poeira.
O local era afastado, mas ainda tinha internet.
Para os jovens, era um alívio poderem estar conectados.
Ao chegarem, depararam-se com uma paisagem natural,
havia um lago e a casa térrea era grande. Os jovens iam se espalhando pelos
quartos e se acomodando.
As duas amigas decidiram permanecer no mesmo
aposento, junto de uma terceira colega da turma.
— Está tão calor, vou colocar meu biquíni — Eva
pisca para outras já tirando a camiseta.
— Nem sabemos se é seguro nadar neste lago — Laura
objetou.
— Vocês nem deveriam estar aqui.
As três pularam com o susto causado pela voz
desconhecida e rouca. Ao se virarem, se depararam com uma senhora carrancuda.
Eva recolocou rapidamente sua camiseta transtornada
pela surpresa que teve. Por um momento pensou que poderia ser um dos rapazes
espiando.
— Eu não quis assustar vocês. — Ela disse deixando
uma pilha de lençóis. — Não vou incomodar.
A senhora saiu deixando as meninas com espanto.
Enquanto andava pelo corredor e parava em frente a uma das portas, Eva e suas
colegas saíram para vê-la.
— Por que nos diz que não deveríamos estar aqui?
Parando com a porta já aberta, a velha as encarou.
— Em noites como essa, nenhum dos moradores locais
se atrevem a sair. Eu fico nesse quarto, se não precisarem de mais nada, evitem
me incomodar.
— Como assim, noites como essa? — Laura estava
inquieta.
— Todo mundo por aqui sabe das lendas. — Ela
completou antes de se trancar em seu quarto.
As garotas ficaram se entreolhando, então caíram na
gargalhada.
O dia foi de muita diversão. Churrasco, música,
jogos. Tudo que a galera tanto queria, descanso. Eva e Laura estavam sentadas
próximas da casa quando a noite começou a avançar enquanto alguns colegas ainda
mexiam loucamente seus corpos entorpecidos.
Elas ouviram um barulho estranho vindo da mata que
ficava na parte de trás do sítio. Não tiveram tempo de reagir, pois quando o
som ficou mais alto, já estava próximo demais, e todos os jovens apenas gritaram
com o horror.
Desesperadas, elas que estavam perto da entrada da
casa, correram para procurar abrigo, mas a porta estava trancada por dentro.
Como se alguém não quisesse que o mal entrasse.
Elas conseguiram fugir do rastro de sangue deixado
pelos corpos de seus amigos no pátio. Pularam com ajuda da adrenalina a cerca
que protegia a casa da mata, e adentraram em disparada pelas trilhas buscando
por socorro e proteção. Pararam no meio do que parecia ser um bananal bem denso
tentando manterem-se escondidas e a salvo. A respiração era pesada. Pequenos
ruídos chamavam sua atenção e elas faziam de tudo para que as lágrimas do medo
não denunciassem sua localização com soluços.
Um barulho perto delas era alto, e depois, por um
tempo, tudo ficou em silêncio. Quando Eva imaginou que o pior havia passado,
ela voltou-se para Laura, mas parou o olhar perplexa encarando sua companheira.
O vulto atrás da colega denunciava que o pior estava apenas começando.
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