Que Belos Olhos Você Tem - Meg Mendes



Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Morphine, Naiane e Natasja, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
Meg Mendes ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.



Que Belos Olhos Você Tem

Meg Mendes


Sempre disseram que é impossível encontrar a pessoa perfeita em sites de relacionamento. Entretanto, ele tinha três encontros. A noite estava apenas iniciando enquanto se arrumava para encontrá-las. Claro que havia tomado o cuidado de marcar com cada uma delas em locais distantes o suficiente para não ser visto e, perto o bastante para não chegar atrasado caso houvesse algum problema em seu encontro anterior.

Olhou frente a um espelho e admirou-se pela escolha elegante que havia feito para usar naquela noite. Buscou com os olhos os últimos detalhes que estavam sobre a cama – um sobretudo em tom marrom escuro, uma pequena caixa que se assemelhava a um presente, e um pano enrolado.

Andou até os objetos dispostos e tomou cuidado ao pegar o tecido e conferir se a lâmina do bisturi estava limpa desde a última vez que tinha usado. Nada poderia dar errado no momento em que tudo acontecesse.

Olhou para o relógio e se encaminhou para a rua. Eram quase sete horas da noite, e haveria tempo suficiente para que ele fosse a pé aos pontos de encontros.

Caminhava lentamente admirado pela luz suntuosa que a lua irradiava. As pessoas passavam correndo, gritando. Para muitos um dia de diversão, para ele uma noite em que perseguia seus desejos ocultos. Não sabia o motivo que o impulsionava, mas sentia que aquela era a noite perfeita do ano para buscar saciar sua necessidade. Chegou um pouco antes do combinado. Olhou para a uma pequena anotação que havia feito no aparelho celular, para não cometer enganos.

Primeiro seria a vez de Alexia, uma jovem ruiva com olhos que segundo suas anotações eram vivos e brilhantes com a cor do mel. Aquilo o deixou ansioso por conhecê-la pessoalmente. Ela tinha estranhado o ponto de encontro, mas como ele mostrou para ela, havia uma trilha que levava para belos pontos de observação da lua cheia que brindava a todos naquela noite mística. Conferiu suas coisas e a hora, e notou que tudo seguia bem até ali.

Avistou um brilho de luz se aproximando. Era o farol de um carro. Quando o mesmo parou, percebeu então que se tratava da jovem que ele havia marcado primeiro.

Quando ela se aproximou, ele tornou a se desculpar pelo local onde havia marcado o encontro. Disse que ali ficava mais perto de para onde iriam.

A jovem nada questionou, apenas sorriu educadamente. A altivez de seu companheiro naquela noite fez com que ela ficasse feliz de não ter sido enganada por imagens falsas da internet.

— Podemos seguir por essa trilha até o local. Verás que a vista da lua é maravilhosa por lá.

Seguiram conversando um pouco sobre o que cada um gostava, fazia e assim se conhecendo como duas pessoas em um primeiro encontro. Quando chegaram ela foi a primeira a dizer o quão lindo era a vista. Ele sorriu e confirmou dizendo que sabia que ela gostaria. Em sua mente passou apenas os mesmos sorrisos que outras já haviam tido com ele naquela mesma região. Não se permitiu delongar muito, pois sabia que logo chegaria o momento de estar com outra convidada.

— Seus olhos são muito lindos — ele comentou enquanto deixava-se absorver pelo reflexo da lua em sua íris.

— Obrigada — ela sorriu tímida em resposta.

— Sabe o que falam? — Ele deixou a frase de forma interrogativa enquanto se aproximava ainda mais dela.

— Bem, não … — não conseguiu concluir sua frase.

— Dizem que os olhos são as janelas da alma. — Ele simplesmente continuou enquanto a segurou firme pelos braços encarando ferozmente seu olhar que agora expressava medo.

Ela tentou se soltar, mas a pressão que ele fazia apertando-lhe fez com que lágrimas surgissem.

— Não, não, não. — Ele alterava sua voz entre doce e suave. — Não estrague esses lindos olhos antes que eu os possua.

Alexia não teve tempo para reagir. Ele a derrubou com uma rasteira precisa ficando por cima de seu corpo.

— Socorro… alguém me ajude.

— Não adianta gritar. Ninguém poderá te escutar aqui.

Enquanto ele segurava o corpo frágil dela com uma de suas mãos, na outra ele pegou o bisturi que carregava enrolado em um tecido escuro guardado na lateral de seu sobretudo. Quando ela viu a lâmina em suas mãos, seus olhos se arregalaram e verteu-se em choro.

Ele não queria perder a oportunidade e num movimento rápido e seguro do que fazia, terminou o que havia planejado fazer.

O grito gutural da jovem logo cessou, e em poucos instantes o silêncio e a respiração acelerada dele era tudo que se podia ouvir.

Guardou o que tanto desejava em sua pequena caixa que havia levado e usando do próprio tecido, limpou o sangue do bisturi. Recompondo-se, ajeitou-se e observou as horas junto de suas anotações.

— Quem será a próxima mesmo?

A noite seguiu seu fluxo calmamente com a lua de testemunha de todos os encontros que ele havia planejado. Uma por uma, elas caíram diante da impiedosa e voraz necessidade que ele sentia. Quando terminou, sentiu-se satisfeito e seguindo pelo caminho que fizera no começo, voltou calmamente para seu lar.

Exatamente no instante em que o som do relógio anunciava a décima segunda hora da noite, ele entrou em seu quarto e ao abrir a porta do armário um belo pote de vidro cheio de globos oculares humanos olhavam para ele boiando numa solução de formol enquanto ele retirava da pequena caixa que havia levado consigo outros três pares de olhos.

Tinha sido mais uma noite de Halloween em que ele alcançava o máximo de seu prazer sádico. Conquistar belos olhos femininos para si, que sempre olhariam para ele em reverência sem a necessidade de nenhuma palavra sequer.

 

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