As Cinco Escolhidas - Meg Mendes
As Cinco Escolhidas
Meg Mendes
Aquele era o quinto
chamado que o inspetor Alonso Ferreira recebia. Era a quinta mulher morta de
forma misteriosa. A sra. Diaz tinha sido encontrada pela empregada e diferente
das outras quatro vítimas, ela era mais velha e viúva. O inspetor ainda não
sabia se a morte estava ligada às anteriores, mas seus instintos lhe diziam que
sim.
Mais cedo, naquele mesmo
dia, ele fora chamado à casa da família De Silva. A filha mais velha, que se
casaria em poucas semanas, estava morta. O corpo fora descoberto pela irmã mais
nova quando foi chamar Vivian para irem à modista para a última prova do
vestido. Depois, Elisabeth Gonçalves faleceu enquanto tomava sol no jardim.
Casada e mãe de dois filhos, observava os pequenos enquanto brincavam. Era tão
bela que parecia uma ninfa adormecida entre as flores.
Assim que saía da casa dos Gonçalves, Alonso Ferreira recebeu o comunicado de algo semelhante em outra parte da cidade.
Cristina Cavalcante era governanta na casa de uma família importante e fazia as compras para seus patrões quando faleceu. Era uma mulher alta e distinta, vestia-se com esmero e possuía certa rigidez, o que fazia o batom vermelho destoar um pouco de sua aparência. Repousava no chão de pedras em meio às frutas da banca que havia despencado com ela.
Julieta Amaral era jovem, a mais nova entre todas e fora encontrada naquela tarde. A moça receberia a professora de piano, a mãe a encontrara no quarto caída no chão, as partituras repousadas na ponta da cama.
As vítimas anteriores não tinham nenhuma ligação, não se conheciam, não faziam parte do mesmo grupo social e tão pouco frequentavam os mesmos locais. Alonso sabia que não seria diferente com a senhora Diaz. E não foi surpresa para ele, os empregados negarem qualquer envolvimento com as outras quatro mulheres.
Entretanto, enquanto interrogava os funcionários da casa, a sensação de que os casos estavam ligados crescia. Ele só teria certeza após o laudo do médico legista.
Na manhã seguinte o laudo indicava envenenamento, não havia sinal ou marcas de agulhas. O mesmo tipo de veneno fora encontrado no sangue das 5 mulheres.
— A srta. De Silva não havia tomado o desjejum. — Alonso disse mais para si que para o legista. — A irmã dissera que elas iriam à modista, era cedo quando a encontrou. A sra. Gonçalves tomava sol no jardim, poderia ter sido envenenada no café da manhã, mas a governanta fazia compras para o almoço e já tinha se passado muito tempo da refeição anterior.
Ele parou para refletir o que as vítimas poderiam ter em comum. Definitivamente não tinham se envenenado pela comida. Repassou todos os detalhes até que se lembrou de um, que no início, pareceu insignificante.
***
Afonso Ferreira olhava
mais uma vez para os relatórios sobre a morte das cinco mulheres, mas desta
vez, tinha uma pista. Decidiu retornar a casa da família De Silva. Como
percebera, as irmãs eram muito unidas e faziam tudo juntas.
— Srta. De Silva, entendo
que este seja um momento delicado, mas se a senhorita puder responder algumas
perguntas.
Ela não recusou. Queria
solucionar a morte da irmã mais velha.
— Sua irmã usava um batom
vermelho quando foi encontrada…
— Oh, sim. Ela o havia
comprado há pouco tempo, era a primeira vez que usava.
— A senhorita sabe onde
sua irmã o adquiriu?
— Claro, eu estava com
ela na ocasião.
O inspetor anotou tudo em
seu inseparável bloco de notas e tomou o batom como evidência. Decidiu ir até a
casa das outras vítimas.
Como Alonso suspeitava,
ele obteve as mesmas indicações de que cada uma das mulheres havia comprado um
batom vermelho no mesmo lugar.
A polícia enchia a botica
no centro da cidade. O local era pequeno e requintado. Havia dezenas de frascos
de perfumes, pós e algumas prateleiras com batons. Em uma posição de destaque,
havia uma pequena fileira do mesmo produto que todas as vítimas haviam comprado
e usado.
— Estou sendo acusada de
alguma coisa, investigador?
— Esses batons vermelhos
são produção sua, estou correto?
A mulher que havia se
apresentado como dona do estabelecimento confirmara que tudo na loja era uma
criação pessoal. Os novos batons eram uma nova receita que havia preparado
apenas para as mulheres especiais.
Ela queria purgar os
pecados. Julgava que aquelas que escolhiam o batom vermelho eram pecadoras e
que precisavam ser purificadas. “Este é o plano de Deus”, ela dizia rindo em
êxtase.
Ao longo da semana todos
os jornais estampavam a notícia:
“Boticária envenena moças
com batom vermelho. Em uma declaração dada pela polícia, ela havia confessado
que aquele seria um teste para as mulheres. As que resistissem a tentação do
vermelho vulgar, seriam poupadas. As que escolhessem aquele produto teriam o
fim que as vozes que a boticária declara
ouvir”.
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