Estação das Sombras - Morphine Epiphany

 


Cinco. Cinco vogais. Cinco sentidos. Cinco amigos. Cinco escritores. Camila, Meg, Morphine, Naiane e Natasja, esse é o Clube dos Cinco. Eles se reúnem à meia-noite em volta de uma fogueira, abrem uma boa garrafa de vinho e contam histórias.
Morphine Epiphany ergueu sua taça e disse de modo solene: “Declaro iniciada a reunião do Clube dos Cinco. Espero que apreciem a minha história”.



Estação das Sombras

Morphine Epiphany


Após o fiasco da festa, os cinco amigos decidiram voltar para casa. Correram um pouco até a estação. Os minutos finais de funcionamento dos trens estavam sendo anunciados.

Lola, Cadu, Amélia, Henrique e Ellen passaram pela catraca e mantiveram a corrida até chegar na plataforma. Faltavam dez minutos para o encerramento de embarque e desembarque.

O trem chegou, as portas se abriram e o grupo adentrou em um vagão totalmente vazio. Eles se espalharam, enquanto as portas se fechavam. Falavam alto, tiravam selfies engraçadas e se divertiam pelo vagão.

O nome da estação seguinte foi anunciado. Henrique corria de um lado para o outro, Lola e Amélia faziam caras e bocas para tirar a selfie perfeita, Cadu se esparramou nos bancos e Ellen admirava a noite pela janela do trem. O metrô estava se aproximando da próxima estação.

As luzes começaram a piscar. Os amigos se entreolharam confusos. O trem parou bruscamente e as trevas invadiram o metrô. As lanternas dos celulares não funcionavam, os celulares desligaram e não respondiam a nenhum comando.

Ellen, Lola e Amélia deram as mãos. Cadu tentava manter a calma. Os amigos chamaram Henrique, mas ele não respondia. Um som de queda transformou os chamados dos amigos em silêncio. Eles cobriram a boca e tentaram respirar lentamente. Algo estava sendo arrastado pelo chão. O repouso durou alguns segundos.

Feixes de luz vermelha piscavam pelo vagão. As garotas se abraçaram. Cadu congelara. O trem começou a tremer de forma violenta, a escuridão retornou.

                                                     ****************

O celular de Lola voltou a funcionar. Ela ligou rapidamente a lanterna, soltou-se das amigas e levantou. Começou a caminhar lentamente na direção do fundo do vagão. Enxergou bancos e janelas. Apontou a iluminação para a frente. O suor deslizava pelo seu rosto. Suas mãos tremiam. Quase escorregou em um líquido. Segurou o celular apontando para o chão e viu uma grande quantidade de um líquido escuro. Gritou com todas as forças. A lanterna iluminou o corpo de Henrique com buracos enormes no lugar dos olhos.

Os amigos chamaram Lola. O celular caiu e a lanterna se apagou. Ela não respondeu. Um grunhido perturbador ecoou pelo trem. Sons de luta, respiração ofegante e ruídos tenebrosos chegavam aos ouvidos do restante do grupo.

Ellen e Amélia choravam abraçadas. Tentavam não fazer barulho. Cadu se levantou, totalmente descontrolado e começou a gritar:

 — O que está acontecendo? O que você quer com os meus amigos? Eu vou acabar com você!

O grunhido ganhou um volume apavorante e feroz. Cadu debochou. Sentiu um bafo repugnante e uma aterrorizante força a segurá-lo. Não conseguia gritar. O trem balançou com fúria. O jovem foi levado pelos obscuros braços.

Em estado de pânico, as garotas tremiam. O vagão estava novamente silencioso. Amélia resolveu tentar buscar ajuda. Tateou até encontrar a porta do trem. Levantou-se e bateu diversas vezes nas portas. Suas pernas ficaram imóveis, só conseguia mexer os braços. O grunhido ressurgiu em uma frequência que feria os ouvidos da garota. Seus ouvidos começaram a sangrar. Seu coração pulsava assustadoramente. Foi puxada pelas sombras.

Ellen enfiou o rosto entre os joelhos e as lágrimas jorravam. Seu corpo estremecido. Gritos percorriam o vagão. As vozes de seus amigos ecoavam dentro de sua cabeça. Pensou no que poderia ter feito. Pensou em como escapar. Sussurros de uma voz que nunca havia escutado, penetraram seus ouvidos. Chamavam seu nome.

A jovem sentiu-se envolvida por aquele chamado. Seus pés conduziram passos leves até o fundo do vagão. O medo havia desaparecido de sua alma. A voz tornava-se mais encantadora. Uma parte de seu corpo paralisou. As luzes voltaram a iluminar o vagão por completo. Os olhos de Ellen ficaram horrorizados diante da cena.

O escarlate dominava todo o vagão. Seus amigos pintados de vermelho e buracos profundos no lugar de seus olhos. Suas bocas haviam perdido a fala. Só havia o rubro quadro que ela jamais esqueceria.

Suas mãos congelaram, as pernas não respondiam, a voz não saía. A escuridão tornou-se parcial. Um fétido bafo aproximava-se do rosto de Ellen. Ela engoliu a saliva e o pavor tomava seus sentidos. Olhos gigantescos e brilhantes, que pareciam a junção de todas as colorações dos olhos de seus amigos, surgiram diante dela.

O inferno chegou sorrateiramente entre a agonia e a paralisia da jovem. Ellen juntou-se ao grupo em uma viagem pelas sombras.


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