Estação das Sombras - Morphine Epiphany
Estação das Sombras
Morphine Epiphany
Após o fiasco da festa, os cinco amigos
decidiram voltar para casa. Correram um pouco até a estação. Os minutos finais
de funcionamento dos trens estavam sendo anunciados.
Lola, Cadu, Amélia, Henrique e Ellen passaram
pela catraca e mantiveram a corrida até chegar na plataforma. Faltavam dez
minutos para o encerramento de embarque e desembarque.
O trem chegou, as portas se abriram e o grupo
adentrou em um vagão totalmente vazio. Eles se espalharam, enquanto as portas
se fechavam. Falavam alto, tiravam selfies engraçadas e se divertiam pelo
vagão.
O nome da estação seguinte foi anunciado.
Henrique corria de um lado para o outro, Lola e Amélia faziam caras e bocas
para tirar a selfie perfeita, Cadu se esparramou nos bancos e Ellen admirava a
noite pela janela do trem. O metrô estava se aproximando da próxima estação.
As luzes começaram a piscar. Os amigos se
entreolharam confusos. O trem parou bruscamente e as trevas invadiram o metrô.
As lanternas dos celulares não funcionavam, os celulares desligaram e não
respondiam a nenhum comando.
Ellen, Lola e Amélia deram as mãos. Cadu tentava
manter a calma. Os amigos chamaram Henrique, mas ele não respondia. Um som de
queda transformou os chamados dos amigos em silêncio. Eles cobriram a boca e
tentaram respirar lentamente. Algo estava sendo arrastado pelo chão. O repouso
durou alguns segundos.
Feixes de luz vermelha piscavam pelo vagão. As
garotas se abraçaram. Cadu congelara. O trem começou a tremer de forma
violenta, a escuridão retornou.
****************
O celular de Lola voltou a funcionar. Ela ligou
rapidamente a lanterna, soltou-se das amigas e levantou. Começou a caminhar lentamente
na direção do fundo do vagão. Enxergou bancos e janelas. Apontou a iluminação
para a frente. O suor deslizava pelo seu rosto. Suas mãos tremiam. Quase
escorregou em um líquido. Segurou o celular apontando para o chão e viu uma
grande quantidade de um líquido escuro. Gritou com todas as forças. A lanterna
iluminou o corpo de Henrique com buracos enormes no lugar dos olhos.
Os amigos chamaram Lola. O celular caiu e a
lanterna se apagou. Ela não respondeu. Um grunhido perturbador ecoou pelo trem.
Sons de luta, respiração ofegante e ruídos tenebrosos chegavam aos ouvidos do
restante do grupo.
Ellen e Amélia choravam abraçadas. Tentavam não
fazer barulho. Cadu se levantou, totalmente descontrolado e começou a gritar:
— O que
está acontecendo? O que você quer com os meus amigos? Eu vou acabar com você!
O grunhido ganhou um volume apavorante e feroz.
Cadu debochou. Sentiu um bafo repugnante e uma aterrorizante força a segurá-lo.
Não conseguia gritar. O trem balançou com fúria. O jovem foi levado pelos obscuros
braços.
Em estado de pânico, as garotas tremiam. O vagão
estava novamente silencioso. Amélia resolveu tentar buscar ajuda. Tateou até
encontrar a porta do trem. Levantou-se e bateu diversas vezes nas portas. Suas
pernas ficaram imóveis, só conseguia mexer os braços. O grunhido ressurgiu em
uma frequência que feria os ouvidos da garota. Seus ouvidos começaram a
sangrar. Seu coração pulsava assustadoramente. Foi puxada pelas sombras.
Ellen enfiou o rosto entre os joelhos e as
lágrimas jorravam. Seu corpo estremecido. Gritos percorriam o vagão. As vozes
de seus amigos ecoavam dentro de sua cabeça. Pensou no que poderia ter feito.
Pensou em como escapar. Sussurros de uma voz que nunca havia escutado,
penetraram seus ouvidos. Chamavam seu nome.
A jovem sentiu-se envolvida por aquele chamado.
Seus pés conduziram passos leves até o fundo do vagão. O medo havia
desaparecido de sua alma. A voz tornava-se mais encantadora. Uma parte de seu
corpo paralisou. As luzes voltaram a iluminar o vagão por completo. Os olhos de
Ellen ficaram horrorizados diante da cena.
O escarlate dominava todo o vagão. Seus amigos
pintados de vermelho e buracos profundos no lugar de seus olhos. Suas bocas
haviam perdido a fala. Só havia o rubro quadro que ela jamais esqueceria.
Suas mãos congelaram, as pernas não respondiam,
a voz não saía. A escuridão tornou-se parcial. Um fétido bafo aproximava-se do
rosto de Ellen. Ela engoliu a saliva e o pavor tomava seus sentidos. Olhos
gigantescos e brilhantes, que pareciam a junção de todas as colorações dos
olhos de seus amigos, surgiram diante dela.
O inferno chegou sorrateiramente entre a agonia
e a paralisia da jovem. Ellen juntou-se ao grupo em uma viagem pelas sombras.
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